sexta-feira, 15 de outubro de 2010

No dentista...

Ontem, de boca aberta na maca de um dentista me fiz a seguinte pergunta: por que, meu Deus, uma pessoa que te traga no coração tem que ganhar dinheiro pra me ver sofrer?!
Eu respeito muito os dentistas e todos os anos que passaram estudando, mas tenho certeza absoluta de que vários deles se vingam em pacientes indefesos: como eu!
Você, odontólogo, pode ser simpático e até ter um bom coração por trás desse jaleco branco. Mas o nome bonito da sua profissão não me engana!!!
Você, dentista, gosta de me ver sofrer, ver minha boca sangrar, minhas mãos se contorcerem e ainda ganha dinheiro com isso!
E além de me fazer cuspir sangue com a metade da boca mole você ainda tenta conversar! Como, meu Deus, me diz como eu vou conseguir conversar com aquele caninho nojento sugando baba da minha boca?!
Esses dias fui ao dentista e pra variar ele não me atendeu de imediato. Claro né? Aqueles dez minutinhos de espera precisam existir. Eles são essenciais pra você imaginar como será sua tortura enquanto ouve o barulho infernal daquele motorzinho fazendo outro ser humano sofrer.
Então, quando aquela assistente super educada abre a porta sorrindo te dizendo bom dia você já pensa: “bom dia por que?”. Às vezes fico imaginando se as assistentes um dia já foram ao dentista. Elas sempre dizem que não vai doer, que vai ser rapidinho, que é um procedimento bem simples. Dá vontade de dizer: “Senta aqui então minha filha, vamos ver se na sua boca a coisa funciona assim”.
E aí, chegando ao consultório vem aquela preparação tensa. Assim que se deita na maca você já vê aquela luz horrenda bem na sua cara e pensa: “Recebe, Senhor esse teu filho desdentado”.
Então o dentista chega... sorridente como só ele poderia estar. Afinal, não é a boca dele que vai ser violentada né?
Enquanto eu ainda estava nos cumprimentos, ele vira minha cabeça pra trás e abre delicadamente a minha boca (até hoje meu maxilar dói). E aí ele começa com aquele bendito motorzinho.
Mas aí eu caio a ficha: “Peraí, e a anestesia”. Ele diz que não precisa, é bem superficial, dá pra fazer sem.
Nessa hora eu tiro aquele babador ridículo, olho meu querido dentista nos olhos e digo:
_ Meu querido doutor, vou te contar uma história. Quando eu tinha uns dez anos de idade, fui a um dentista bem recomendado por toda a família. Lá chegando, ele teve abrilhante ideia de iniciar a escavação sem anestesia. Assim que o abençoado motorzinho alcançou a polpa do meu dente, que lembremos, não estava anestesiado, me levantei imediatamente, saí correndo e nunca mais voltei. É isso que o senhor quer que aconteça, doutor?
O dentista encabulado apenas sorri. Ele acha que eu estou brincando. Tentando me conformar ele diz que nada irá acontecer dessa vez e pede à assistente que prepare a anestesia.
Quando ele me aplica a bendita injeção, parece que faz de propósito: cutuca a gengiva com aquela agulha imensa como se estivesse esfaqueando o amante da esposa e pergunta: “Adormeceu?”. Bom doutor, vou te dizer uma coisa: se não tiver adormecido da anestesia não sei do que foi, porque já não sinto mais minhas pernas, meus braços...meus dentes...
Isso sem contar, que enquanto ele espera minha boca adormecer, vai se atualizando da minha vida pessoal: “E aí, tá trabalhando aonde? E o casamento, a faculdade, como vão? E o maridão, tranquilo?”
Juro que na primeira pergunta ainda tento responder. Tudo bem que metade da boca não responde aos meus comandos e eu começo a babar enquanto falo; mas eu tento! Mesmo vendo que eu não consigo responder ele continua com o questionário. Quer saber minha opinião sobre política, time favorito, até que eu me estresso. Com um olhar no mínimo sarcástico me viro para meu querido dentista e aponto para minha boca inerte, babando que nem um bode.
O máximo que consigo é que ele pare de perguntar. Agora é ele quem vai falar. Ele conta da família, da especialização, do político que apoiou...de tudo um pouco. E eu lá, com minhas cáries sendo analisadas por ele e precisando fingir que estou prestando atenção?! Ah...faça me o favor.
E quando eu achava que tudo estava terminado ele me diz: “Pronto, nem judiei de você hoje”. Ah!! Quer dizer que nos outros dias você judiou né seu #$%@. No final das contas ele ainda ousa dizer que foi rapidinho. Mas eu me seguro e não falo nada. Apenas dou um sorriso com minha boca torta pela anestesia.
É por isso, querido dentista, que não importa o quão simpático, bonito ou atencioso você seja: sempre será uma tortura te visitar.
Porque no seu consultório nós somos humilhados, quer você queira, quer não. E não venha me dizer que é normal ver os outros cuspindo sangue e babando pelos cantos porque NÃO É. Pelo menos, não pra mim.
Eu agradeço por você ter tido toda essa paciência em estudar estas coisas nojentas pra “ajudar as pessoas a sorrir”. Mas eu te juro, por esses dentes que tenho em minha boca, que o quanto eu puder, te evitarei.

Assinado,
Uma paciente traumatizada.

2 comentários:

  1. adorei expressou perfeitamente o que sinto com relação aos dentistas!!
    (esse texto revela que você é uma ótima humorista)

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